terça-feira, 22 de janeiro de 2013

CULTURA HIPSTER








Já havia lido a palavra em algum lugar e já havia tido contato diversas vezes com referências e expoentes dessa assim chamada “tribo” ou manifestação cultural (até mesmo nas minhas relações cotidianas, interpessoais), mas só fui me dar conta do que realmente caracteriza um hipster, em profundidade, ao perceber a utilização recorrente do termo nas redes sociais, e com feito, pesquisar no sempre valoroso Google à respeito. As “descobertas” que fiz me despertaram para as inúmeras interfaces hipsters na cultura pop e alternativa (cinema, música e TV) e, sobretudo, para alguns hábitos de amigos e conhecidos. Confesso que também pude identificar o quanto de hipster existe em mim mesmo.

O termo surgiu nos EUA no início dos anos 2000 para designar o comportamento de pessoas cujos hábitos culturais (formas de vestir-se, cultuamento de personalidades, filmes, músicas, livros) remetem à alternatividade e vanguarda, misturando diversos elementos modernos com caracteres “retro”, algo meio “Blasé” e com certa independência do que está em vigência na indústria cultural.

Embora Hipster seja uma definição relativamente nova, seu derivativo remete aos anos 40 do século XX, quando o termo Hip era empregado pra designar os fãs de Jazz, a nova tendência musical alternativa dos EUA na época. Desde então, houve flexões e variações no emprego da palavra até chegar ao que hoje se define propriamente como cultura hipster, que é essencialmente urbana e com características oriundas da pós-modernidade e globalização, sendo uma espécie de reflexo cultural desses fenômenos sociais.

Os hipsters podem ser identificados com certa facilidade pelo seu modo de vestir-se bem característico, que mistura a estética vintage e retrô com adereços modernos e também vanguardistas, numa mistura que geralmente tem um apelo simbólico identificável praticamente apenas ao próprio que os usa ou aos seus pares – leia-se: outros hipsters. As referências para tal encontram-se habitualmente na música Indie Rock, Grunge, Folk Rock e Folk Music, além do outras tendências do Rock, como o progressivo e gêneros alternativos da linha do Blues, Jazz e Lounge. No cinema os filmes de arte, independentes e alternativos, também tendências e movimentos como a Nouvelle Vague e outros do cinema europeu.


Há também o “midi-hipster” , que transforma alguns elementos da cultura pop em hábitos cult e alternativos, misturando elementos entre erudição e cultura de massa: assistem novelas mexicanas, veem filmes trash – geralmente de terror sangrento com o sangue cinematográfico amarelado e feito de xarope- , vão a festivais e encontros de revistas em quadrinhos, frequentam feiras manguás e outros eventos do tipo, bem como grupos de afinidade. Cultuam literatura da moda - erudita ou não - tais como Senhor dos Anéis, Harry Potter, Crônicas de Gelo e Fogo, Crepúsculo, 50 Tons de Cinza por aí. Podem ser fanáticos por quadrinhos e super-fãs de filmes estilo “Sessão da Tade” como “Lagoa Azul”, “Elvira”, “Curtindo A Vida Adoidado”, “De Volta Para o Futuro” ou qualquer um dos vários sobre zumbies. Essa seria a categoria “hipster pseudointelectual”.


CARATERÍSTICAS VISUAIS DO HIPSTER

Óculos Wayfarer 










Caras com os óculos do Jonh Lennon, a boina do Che Guevara, moças com óculos wayfarer, penteado estilo Jannis Joplin, acessórios indianos ou étnicos, cabelos pintados com corres berrantes e homogêneas e geralmente não muito usuais (azul, cinza, roxo, rosa-choque), estilo hippie anos 60/70, geralmente roupas com alguma referência a cultura alternativa do passado com um toque de moderno que pode ir de um tênis All Star até um cachecol.


Há também muito forte o fator exclusividade: se a tendência se populariza ou passa a ser “reproduzida” em outros grupos ela simplesmente perde o interesse para os hipsters, que veem justamente na diferença a maior simbologia e importância do seu vestuário.


MAS DEFINIÇÕES PECULIARES


“Um artigo de revista Time de 2009 descreve hipsters da seguinte forma: "pegue o suéter de sua avó e os óculos Wayfares de Bob Dylan, e shorts jeans, tênis All Star Converse e uma lata de Pabst e pronto - Hipster."

Fonte: Wikipédia


“Hipsters são uma tribo urbana criada nos Estados Fudidos (sic) para fazer concorrência ao Indie e no fundo são a mesma merda, só que se difunde mais depressa do que as DST's por causa do site cult Tumblr. Usam óculos sem terem problemas de visão, suspensórios em calças que de tão justas nunca iriam cair e chapéus à noite, camisolões de lã no Verão, entre outras muitas coisas que, além de inúteis, são de um gosto um tanto duvidoso. Hipsters são conhecidos por gostarem de roupa que é mais velha do que os próprios avôs. São conhecidos pelos seus calçados coloridos, suas amizades coloridas e pelas suas opções sexuais indecisas ou muito coloridas.

Os Hipsters são, facilmente, reconhecidos pelo seu péssimo gosto musical, que é sempre de bandas que ninguém conhece, cujas letras repetitivas e depressivas só falam de sexo ou drogas, com um Baixo ridículo e um beat electrónico. Tendo um amor incondicional por camisetas dos Joy Division (mesmo que nunca tenham ouvido nenhuma música da banda). É dito que Ian Curtis foi o primeiro dos Hipsters.”

Fonte: Desiclopédia.


“A bem da verdade, hipster não passa de um jeito diferente de classificar pessoas que, até há pouco, seriam tachadas de moderninhas. O termo começou a ser utilizado em Nova York lá pelo início dos anos 2000, e vem da palavra “hip”, que pode ser traduzida como inovador”.


Fonte: Veja.com


HIPSTERS NO CINEMA





Há vários expoentes dessa cultura no cinema, tanto pelo apelo visual e artístico interessante quanto pela chamada alternatividade do comportamento e cultura hipster, caraterística que nos filmes costuma ser valorizada e até acentuada alegoricamente.

Jonh Travolta e Umma Thurman em cena do filme Pulp Fiction (1994)

Umma Thurman em Pulp Fiction (1994)
Alguns são bastante conhecidos, como Pulp Fiction (1994), de Tarantino, que foi sucesso de público e crítica e venceu nada menos que a Palma de Ouro em Cannes. A expressão maior do hipsterismo no filme estão nos personagens de Umma Thurman e Jonh Travolta, mais a primeira que o segundo. A cena em que dançam no restaurante temático Jack Rabitt Slim's o rock-mambo "You Never Can Tell", De Chuck Berry, é simplesmente genial e puro exemplo de “atitude hipster”. (Veja ao vídeo da cena abaixo).

                                        



Na comédia independente Ghost World (2001) temos as amigas Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) que cultuam e vivenciam intensamente seu hispsterismo, sendo Enid a representação com riqueza de detalhes de uma legítima hipster norte-americana, na acepção mais profunda da simbologia e cultura da “tribo”. Na verdade o filme inteiro tem uma estética, temática e abordagem muito hipster que em alguns momentos converge bastante com os exponenciais nerds, undergrounds e indies.




Scarlett Johansson e Thora Birch em cena de Ghost World (2001)

Thora Birch caraterizada como a Hipster Enid do filme Ghost World (2001)


Um exemplo mais recente e “light” de uma personagem hipster é no filme “500 Dias Com Ela”, a personagem da Zooey Deschanel. É, dos aqui expostos, a representação mais boBa e superficial do hipsterismo, e se enquadra perfeitamente como “midi-hipster".

 Zooey Deschanel e Joseph Gordon-Levitt em cena do filme 500 Dias Com Ela (2009)


REFERÊNCIAS CULTURAIS , IDENTIFICAÇÃO PESSOAL E PESSOAS NO MEU CÍRCULO DE CONVÍVIO










Os hispsters genuínos bebem na fonte dos beatikes, do cinema de arte, do teatro de vanguarda, da música alternativa, na contracultura e em diversas outras manifestações artístico-culturais que vão em direção oposta ao status quo vigente.

Nessa perspectiva eu me considero, em parte, hipster, embora não tenha qualquer identificação com o estilo de se vestir ou ostente gags e jargões típicos do hipsterismo. No entanto, acho que a cultura hipster transcende a questão do vestuário e se alicerça numa forma de estar e conceber o mundo alternativamente, sem amarras tradicionalistas, moralistas ou convencionais.

Quando do início do delineamento do termo, Jack Keroauc, o principal expoente da Geração Beat, definiu os hipsters como pessoas "subindo e vagabundeando pela América, vadiando e pegando carona em toda a parte, como elementos de uma espiritualidade especial”. Nessa mesma linha, Norman Mailer os descreve assim: “os hipsters como existencialistas americanos, vivendo uma vida cercada pela morte (aniquilada pela guerra atômica ou estrangulada pela conformidade social) e optando, ao invés disso, por "divorciar-se da sociedade, para existir sem raízes, para partir em uma jornada não mapeada pelos imperativos rebeldes de seu próprio ser."

Essas definições convergem com a ideia de afastamento ao que é culturalmente convencional e adentrada numa prática diferenciada, até mesmo para conceber e "digerir" numa nova roupagem o que é consenso na industria cultural e na conjuntura político-ideológica vigente. Entretanto, a tendência hipster rompeu as fronteiras dos EUA e hoje se encontra muito bem enraizada em diversas partes do mundo. 
 

Contextualizando a realidade nordestina, pude ter contato com diversas pessoas que congegavam, em menor ao maior proporção, com valores da cultura hipster, na sua forma de apresentar-se, visual e ideologicamente, e também nas atitudes e posturas diante do mundo. Dentre elas estão alguma a quem eu tenho bastante admiração e estima.

Mesmo eu não sendo um hipster na significação mais profunda da definição, considero ser essa uma das mais relevantes manifestações culturais populares, que espelham os anseios, gostos e prospecções da nossa modernidade, numa dinâmica cheia de elementos libertários e que cultua om modelo de vida e arte alternativos. E viva os hipsters do nosso tempo!

Um comentário:

  1. Com todo o respeito a sua pesquisa sobre o termo, convido vc a repensar suas definições a partir deste texto maravilhoso publicado na N.Y. Times
    http://opinionator.blogs.nytimes.com/2012/11/17/how-to-live-without-irony/
    Na minha humilde opinião Ghost World e Pulp Ficition passam muito longe do hipsterismo que condena a geração 2010 ao vazio... Abç,

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