sábado, 20 de abril de 2013

CRÍTICA CINÉFILA


Neste espaço do blog farei resenhas críticas daquela que é notória e reconhecidamente uma das minhas maiores paixões: o cinema! Os filmes criticados não serão necessariamente os que estão em evidência no circuito de distribuição, mas os que de algum modo me impactaram e me sensibilizaram ou que trazem algo de relevante ao gênero. Como não sou propriamente um especialista na área, as análises serão publicizadas em nível de apreciação amadorística com alguns detalhes técnicos da narrativa cinematográfica, por isso o subtítulo “Cinéfila”. Falar da Sétima Arte é sempre um deleite, mais que isso: uma catarse artística! Eventualmente também resenharei telefilmes e minisséries. E pra começar com “chave de ouro”, o primeiro título resenhado será uma das obras-primas do cinema de arte contemporâneo: Melancolia (2011), do diretor dinamarquês Lars Von Trier.

quarta-feira, 20 de março de 2013

A MELANCOLIA MINHA DE CADA DIA

Melancolia. Eduard Munch. 1895. Óleo sobre tela.


"Estou triste, tão triste, estou muito triste
Por que será que existe o que quer que seja?
O meu lábio não diz...
O meu gesto não faz...
Eu me sinto vazio, e ainda assim farto!"
(Estou Triste [trecho] - Caetano Veloso)
Video com a música abaixo:



Nunca uma música definiu tão bem a minha "essência temperamental", minha consciência subjetiva constante, quanto essa do Caetano! Não que esteja sempre triste, longe disso. Tenho momentos maravilhosos e plenos de felicidade e nesses últimos tempos, Graças a Deus, tenho experienciado vários. Embora não acredite em felicidade como um estado de espírito prolongado, haja visto que em nossa vida os momentos de angustia e inquietude sempre superam os de alegria e quietude, creio na força redentora do amor, da Fé e da exultação eufórica da mais refinada e sublime alegria! Entretanto sou um profícuo e obsessivo observador do mundo e seus vários aspectos. Tenho uma espécie de "disconfiômetro" que me faz sempre ter um pé atrás e ser comedido com ações humanas e sociais. É a tal consciência crítica trabalhada ao longo do tempo, que simplesmente não me permite "engolir" algumas questões que me são trazidas cotidianamente como elas estão postas. Tendo a "digeri-las" criticamente e traçar conjecturas diversas. Em grande parte das vezes - na maioria talvez - isso é involuntário.



Sou muito de absorver as informações, signos, fatos e situações a que sou exposto e isso ocorre sempre caótica e desordenadamente, como um redemoinho subjetivo e me acometer a mente, tomando meus sentimentos e até mesmo provocar reações biológicas. Aí que entra o refrão do Caetano: "Estou triste, tão triste, estou muito triste. Por que será que existe o que quer que seja [...] Eu me sinto vazio, e ainda assim farto!"

 
Estou certo que os momentos felizes e compartilhados são o maior sentido de viver, aquilo que torna nossa existência limitada um lampejo de esperança e transcendência eufórica. Mas preciso, para sentir-me autêntico, de doses controladas de melancolia, de poder olhar o mundo sob uma ótica mais depurada e menos alegremente cínica. Humor negro à Woody Allen as vezes ajuda, mas eventualmente, para me sentir humano, vivo, de carne e osso, necessito de uma forte dose de devastação triste e corrosiva, como a tão característica nos filmes de Lars Von Trier, em especial o homônimo ao sentimento citado.


Essa sanha extrovertida da indústria cultura amplificada pela nossa sociedade do espetáculo me dá "nas bordas" as vezes. Não suporto tanta tietagem, neopopulismo, exaltação da mais pura e insofismada mediocridade. A alegria e o sublime nascem do estado de tristeza, da construção melancólica e inconformada das estafantes tarefas cotidianas, dos desesperos sufocados pelos agentes culturais do status quo, da híbrida atmosfera social que gera os insatisfeitos que renovam e mudam o mundo!

"Tristeza não tem fim, felicidade sim". Já dizia um outro refrão de outro gênio da música e da cultura brasileira chamado Chico Buarque. A dor é universal. A alegria idem. Mas uma parece ser consequência direta da outra. Não digo que para ser feliz é preciso necessariamente sofrer, mas que umas doses de tristeza e melancolia são essenciais para que haja uma sociedade mais humanizada, mais sensível, artística, poética, política e intelectualmente as mazelas e intempéries que afligem a humanidade.

Sê feliz, mas sem esquecer e negligenciar um dos principais caracteres da condição humana, a de se comover face a dor do outro e das situações absurdas. A negação da realidade apenas atrasa o mundo e protela o obscurantismo e os sentimentos e ações que nos limitam. Melancolia contra o conformismo e apatia. Alegria para renovar corpo, mente e espírito.

A INTELECTUALIDADE E O ATO DE ESCREVER. OU: PORQUE ESCREVO







Não sou nem nunca fui intelectual. Também não tenho a pretensão fútil e exibicionista de me autodeclarar e/ou ser titulado como um. Talvez alcance a excelência que tal nomenclatura exige algum dia, depois de comer muito “feijão com arroz” cultural e “cozinhar” (produzir) intelectualmente coisas mais consistentes - e não apenas fragmentos subjetivos como faço hoje na internet.


Por que costumam me definir assim? Sinceramente, não sei ao certo. Acho que talvez porque o quadro intelectual hoje em dia anda tão fraco e defasado que uma pessoa que tem uma pequena noção de alguns assuntos, um mínimo de racionalidade e razoabilidade, que sabe ligar “lé com cré”, acaba sendo elevado involuntariamente a essa categoria, o que talvez também ocorra comigo. À bem da verdade eu não escrevo pra ser vangloriado.

Escrevo tão simplesmente para expressar o que penso e o que sinto, é como uma válvula de escape por onde deixo “transbordar” toda gama de informações, conhecimentos, paixões e percepções adquiridas, fazendo-o de modo estilizado textualmente. É uma catarse.

Obvio que gosto quando meu texto apreciado e mais ainda quando alguém se propõe a refuta-lo integral ou parcialmente, pois é nesses embates que consigo extrair síntese subjetiva pra muitos assuntos. Não obrigo ninguém a concordar comigo. Tampouco sou obrigado a assentir uma opinião contrária quando convencido justamente... do contrário!

Alguns já disseram que escrevo “muito difícil” que meus textos são de alta complexidade semântica, mas eu discordo. Discordo porque consigo estabelecer excelentes interlocuções com pessoas no facebook e neste blog e grande parte delas nem é acadêmica ou frequenta os circuitos culturais e intelectuais que frequentei e eventualmente ainda frequento. São pessoas simples que tem uma compreensão e um discernimento muito bons e a quem me lisonjeia a apreciação textual. E hoje em dia tudo está mais fácil de se interpretar. Se não conhece um palavra ou expressão? Simples: joga no Google! São as facilidades inerentes a nossa (pós)modernidade.

Também não gosto de subestimar ninguém. É verdade que muito de vez em quando alguém sem muita base e fundamentação se propõe a objetar o que escrevo e acaba “viajando na maionese” legal. Mas levo na esportiva, acho espirituoso até, me distrai, confesso. O grande barato é que esse se tornou um espaço maravilho de interação, onde pude conhecer pessoas brilhantes, de percepção aguçada e perspectiva de vida maravilhosas. Algumas eu tive o prazer e a honra de conhecer pessoalmente. Outras ainda estou no aguardo. Algumas já conhecia e admirava e pelo que postam aqui passei a admirar ainda mais. Tem também os que não surpreenderam e os que me decepcionaram.


                                  


Tudo faz parte do grande mosaico da cultura e da integração humana. Apesar de tudo, tenho renovada fé no ser humano e na sua ação transformadora. Palavras expostas numa tela virtual podem não parecer muito substanciais, mas seu impacto pra quem lê e a ação de quem as escreve fazem uma diferença monumental em muitos aspectos.


Como dizia Clarice Lispector, escrevo porque se não o fizesse seria como se eu “morresse simbolicamente” todos os dias. Escrevo para me manter vivo e estimulado, pra ajudar a me compreender melhor e também as pessoas de um modo geral. Escrevo, como dizia a poeta, “porque o instante existe” e nele reside toda a beleza e grandiosidade de viver. Tentar traduzi-lo em palavras: eis a minha principal missão. A todos que me leem – esse post ou qualquer outro – obrigado por me ajudarem a ser mais humano e mais feliz.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

CULTURA HIPSTER








Já havia lido a palavra em algum lugar e já havia tido contato diversas vezes com referências e expoentes dessa assim chamada “tribo” ou manifestação cultural (até mesmo nas minhas relações cotidianas, interpessoais), mas só fui me dar conta do que realmente caracteriza um hipster, em profundidade, ao perceber a utilização recorrente do termo nas redes sociais, e com feito, pesquisar no sempre valoroso Google à respeito. As “descobertas” que fiz me despertaram para as inúmeras interfaces hipsters na cultura pop e alternativa (cinema, música e TV) e, sobretudo, para alguns hábitos de amigos e conhecidos. Confesso que também pude identificar o quanto de hipster existe em mim mesmo.

O termo surgiu nos EUA no início dos anos 2000 para designar o comportamento de pessoas cujos hábitos culturais (formas de vestir-se, cultuamento de personalidades, filmes, músicas, livros) remetem à alternatividade e vanguarda, misturando diversos elementos modernos com caracteres “retro”, algo meio “Blasé” e com certa independência do que está em vigência na indústria cultural.

Embora Hipster seja uma definição relativamente nova, seu derivativo remete aos anos 40 do século XX, quando o termo Hip era empregado pra designar os fãs de Jazz, a nova tendência musical alternativa dos EUA na época. Desde então, houve flexões e variações no emprego da palavra até chegar ao que hoje se define propriamente como cultura hipster, que é essencialmente urbana e com características oriundas da pós-modernidade e globalização, sendo uma espécie de reflexo cultural desses fenômenos sociais.

Os hipsters podem ser identificados com certa facilidade pelo seu modo de vestir-se bem característico, que mistura a estética vintage e retrô com adereços modernos e também vanguardistas, numa mistura que geralmente tem um apelo simbólico identificável praticamente apenas ao próprio que os usa ou aos seus pares – leia-se: outros hipsters. As referências para tal encontram-se habitualmente na música Indie Rock, Grunge, Folk Rock e Folk Music, além do outras tendências do Rock, como o progressivo e gêneros alternativos da linha do Blues, Jazz e Lounge. No cinema os filmes de arte, independentes e alternativos, também tendências e movimentos como a Nouvelle Vague e outros do cinema europeu.


Há também o “midi-hipster” , que transforma alguns elementos da cultura pop em hábitos cult e alternativos, misturando elementos entre erudição e cultura de massa: assistem novelas mexicanas, veem filmes trash – geralmente de terror sangrento com o sangue cinematográfico amarelado e feito de xarope- , vão a festivais e encontros de revistas em quadrinhos, frequentam feiras manguás e outros eventos do tipo, bem como grupos de afinidade. Cultuam literatura da moda - erudita ou não - tais como Senhor dos Anéis, Harry Potter, Crônicas de Gelo e Fogo, Crepúsculo, 50 Tons de Cinza por aí. Podem ser fanáticos por quadrinhos e super-fãs de filmes estilo “Sessão da Tade” como “Lagoa Azul”, “Elvira”, “Curtindo A Vida Adoidado”, “De Volta Para o Futuro” ou qualquer um dos vários sobre zumbies. Essa seria a categoria “hipster pseudointelectual”.


CARATERÍSTICAS VISUAIS DO HIPSTER

Óculos Wayfarer 










Caras com os óculos do Jonh Lennon, a boina do Che Guevara, moças com óculos wayfarer, penteado estilo Jannis Joplin, acessórios indianos ou étnicos, cabelos pintados com corres berrantes e homogêneas e geralmente não muito usuais (azul, cinza, roxo, rosa-choque), estilo hippie anos 60/70, geralmente roupas com alguma referência a cultura alternativa do passado com um toque de moderno que pode ir de um tênis All Star até um cachecol.


Há também muito forte o fator exclusividade: se a tendência se populariza ou passa a ser “reproduzida” em outros grupos ela simplesmente perde o interesse para os hipsters, que veem justamente na diferença a maior simbologia e importância do seu vestuário.


MAS DEFINIÇÕES PECULIARES


“Um artigo de revista Time de 2009 descreve hipsters da seguinte forma: "pegue o suéter de sua avó e os óculos Wayfares de Bob Dylan, e shorts jeans, tênis All Star Converse e uma lata de Pabst e pronto - Hipster."

Fonte: Wikipédia


“Hipsters são uma tribo urbana criada nos Estados Fudidos (sic) para fazer concorrência ao Indie e no fundo são a mesma merda, só que se difunde mais depressa do que as DST's por causa do site cult Tumblr. Usam óculos sem terem problemas de visão, suspensórios em calças que de tão justas nunca iriam cair e chapéus à noite, camisolões de lã no Verão, entre outras muitas coisas que, além de inúteis, são de um gosto um tanto duvidoso. Hipsters são conhecidos por gostarem de roupa que é mais velha do que os próprios avôs. São conhecidos pelos seus calçados coloridos, suas amizades coloridas e pelas suas opções sexuais indecisas ou muito coloridas.

Os Hipsters são, facilmente, reconhecidos pelo seu péssimo gosto musical, que é sempre de bandas que ninguém conhece, cujas letras repetitivas e depressivas só falam de sexo ou drogas, com um Baixo ridículo e um beat electrónico. Tendo um amor incondicional por camisetas dos Joy Division (mesmo que nunca tenham ouvido nenhuma música da banda). É dito que Ian Curtis foi o primeiro dos Hipsters.”

Fonte: Desiclopédia.


“A bem da verdade, hipster não passa de um jeito diferente de classificar pessoas que, até há pouco, seriam tachadas de moderninhas. O termo começou a ser utilizado em Nova York lá pelo início dos anos 2000, e vem da palavra “hip”, que pode ser traduzida como inovador”.


Fonte: Veja.com


HIPSTERS NO CINEMA





Há vários expoentes dessa cultura no cinema, tanto pelo apelo visual e artístico interessante quanto pela chamada alternatividade do comportamento e cultura hipster, caraterística que nos filmes costuma ser valorizada e até acentuada alegoricamente.

Jonh Travolta e Umma Thurman em cena do filme Pulp Fiction (1994)

Umma Thurman em Pulp Fiction (1994)
Alguns são bastante conhecidos, como Pulp Fiction (1994), de Tarantino, que foi sucesso de público e crítica e venceu nada menos que a Palma de Ouro em Cannes. A expressão maior do hipsterismo no filme estão nos personagens de Umma Thurman e Jonh Travolta, mais a primeira que o segundo. A cena em que dançam no restaurante temático Jack Rabitt Slim's o rock-mambo "You Never Can Tell", De Chuck Berry, é simplesmente genial e puro exemplo de “atitude hipster”. (Veja ao vídeo da cena abaixo).

                                        



Na comédia independente Ghost World (2001) temos as amigas Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) que cultuam e vivenciam intensamente seu hispsterismo, sendo Enid a representação com riqueza de detalhes de uma legítima hipster norte-americana, na acepção mais profunda da simbologia e cultura da “tribo”. Na verdade o filme inteiro tem uma estética, temática e abordagem muito hipster que em alguns momentos converge bastante com os exponenciais nerds, undergrounds e indies.




Scarlett Johansson e Thora Birch em cena de Ghost World (2001)

Thora Birch caraterizada como a Hipster Enid do filme Ghost World (2001)


Um exemplo mais recente e “light” de uma personagem hipster é no filme “500 Dias Com Ela”, a personagem da Zooey Deschanel. É, dos aqui expostos, a representação mais boBa e superficial do hipsterismo, e se enquadra perfeitamente como “midi-hipster".

 Zooey Deschanel e Joseph Gordon-Levitt em cena do filme 500 Dias Com Ela (2009)


REFERÊNCIAS CULTURAIS , IDENTIFICAÇÃO PESSOAL E PESSOAS NO MEU CÍRCULO DE CONVÍVIO










Os hispsters genuínos bebem na fonte dos beatikes, do cinema de arte, do teatro de vanguarda, da música alternativa, na contracultura e em diversas outras manifestações artístico-culturais que vão em direção oposta ao status quo vigente.

Nessa perspectiva eu me considero, em parte, hipster, embora não tenha qualquer identificação com o estilo de se vestir ou ostente gags e jargões típicos do hipsterismo. No entanto, acho que a cultura hipster transcende a questão do vestuário e se alicerça numa forma de estar e conceber o mundo alternativamente, sem amarras tradicionalistas, moralistas ou convencionais.

Quando do início do delineamento do termo, Jack Keroauc, o principal expoente da Geração Beat, definiu os hipsters como pessoas "subindo e vagabundeando pela América, vadiando e pegando carona em toda a parte, como elementos de uma espiritualidade especial”. Nessa mesma linha, Norman Mailer os descreve assim: “os hipsters como existencialistas americanos, vivendo uma vida cercada pela morte (aniquilada pela guerra atômica ou estrangulada pela conformidade social) e optando, ao invés disso, por "divorciar-se da sociedade, para existir sem raízes, para partir em uma jornada não mapeada pelos imperativos rebeldes de seu próprio ser."

Essas definições convergem com a ideia de afastamento ao que é culturalmente convencional e adentrada numa prática diferenciada, até mesmo para conceber e "digerir" numa nova roupagem o que é consenso na industria cultural e na conjuntura político-ideológica vigente. Entretanto, a tendência hipster rompeu as fronteiras dos EUA e hoje se encontra muito bem enraizada em diversas partes do mundo. 
 

Contextualizando a realidade nordestina, pude ter contato com diversas pessoas que congegavam, em menor ao maior proporção, com valores da cultura hipster, na sua forma de apresentar-se, visual e ideologicamente, e também nas atitudes e posturas diante do mundo. Dentre elas estão alguma a quem eu tenho bastante admiração e estima.

Mesmo eu não sendo um hipster na significação mais profunda da definição, considero ser essa uma das mais relevantes manifestações culturais populares, que espelham os anseios, gostos e prospecções da nossa modernidade, numa dinâmica cheia de elementos libertários e que cultua om modelo de vida e arte alternativos. E viva os hipsters do nosso tempo!