quarta-feira, 20 de março de 2013

A MELANCOLIA MINHA DE CADA DIA

Melancolia. Eduard Munch. 1895. Óleo sobre tela.


"Estou triste, tão triste, estou muito triste
Por que será que existe o que quer que seja?
O meu lábio não diz...
O meu gesto não faz...
Eu me sinto vazio, e ainda assim farto!"
(Estou Triste [trecho] - Caetano Veloso)
Video com a música abaixo:



Nunca uma música definiu tão bem a minha "essência temperamental", minha consciência subjetiva constante, quanto essa do Caetano! Não que esteja sempre triste, longe disso. Tenho momentos maravilhosos e plenos de felicidade e nesses últimos tempos, Graças a Deus, tenho experienciado vários. Embora não acredite em felicidade como um estado de espírito prolongado, haja visto que em nossa vida os momentos de angustia e inquietude sempre superam os de alegria e quietude, creio na força redentora do amor, da Fé e da exultação eufórica da mais refinada e sublime alegria! Entretanto sou um profícuo e obsessivo observador do mundo e seus vários aspectos. Tenho uma espécie de "disconfiômetro" que me faz sempre ter um pé atrás e ser comedido com ações humanas e sociais. É a tal consciência crítica trabalhada ao longo do tempo, que simplesmente não me permite "engolir" algumas questões que me são trazidas cotidianamente como elas estão postas. Tendo a "digeri-las" criticamente e traçar conjecturas diversas. Em grande parte das vezes - na maioria talvez - isso é involuntário.



Sou muito de absorver as informações, signos, fatos e situações a que sou exposto e isso ocorre sempre caótica e desordenadamente, como um redemoinho subjetivo e me acometer a mente, tomando meus sentimentos e até mesmo provocar reações biológicas. Aí que entra o refrão do Caetano: "Estou triste, tão triste, estou muito triste. Por que será que existe o que quer que seja [...] Eu me sinto vazio, e ainda assim farto!"

 
Estou certo que os momentos felizes e compartilhados são o maior sentido de viver, aquilo que torna nossa existência limitada um lampejo de esperança e transcendência eufórica. Mas preciso, para sentir-me autêntico, de doses controladas de melancolia, de poder olhar o mundo sob uma ótica mais depurada e menos alegremente cínica. Humor negro à Woody Allen as vezes ajuda, mas eventualmente, para me sentir humano, vivo, de carne e osso, necessito de uma forte dose de devastação triste e corrosiva, como a tão característica nos filmes de Lars Von Trier, em especial o homônimo ao sentimento citado.


Essa sanha extrovertida da indústria cultura amplificada pela nossa sociedade do espetáculo me dá "nas bordas" as vezes. Não suporto tanta tietagem, neopopulismo, exaltação da mais pura e insofismada mediocridade. A alegria e o sublime nascem do estado de tristeza, da construção melancólica e inconformada das estafantes tarefas cotidianas, dos desesperos sufocados pelos agentes culturais do status quo, da híbrida atmosfera social que gera os insatisfeitos que renovam e mudam o mundo!

"Tristeza não tem fim, felicidade sim". Já dizia um outro refrão de outro gênio da música e da cultura brasileira chamado Chico Buarque. A dor é universal. A alegria idem. Mas uma parece ser consequência direta da outra. Não digo que para ser feliz é preciso necessariamente sofrer, mas que umas doses de tristeza e melancolia são essenciais para que haja uma sociedade mais humanizada, mais sensível, artística, poética, política e intelectualmente as mazelas e intempéries que afligem a humanidade.

Sê feliz, mas sem esquecer e negligenciar um dos principais caracteres da condição humana, a de se comover face a dor do outro e das situações absurdas. A negação da realidade apenas atrasa o mundo e protela o obscurantismo e os sentimentos e ações que nos limitam. Melancolia contra o conformismo e apatia. Alegria para renovar corpo, mente e espírito.

A INTELECTUALIDADE E O ATO DE ESCREVER. OU: PORQUE ESCREVO







Não sou nem nunca fui intelectual. Também não tenho a pretensão fútil e exibicionista de me autodeclarar e/ou ser titulado como um. Talvez alcance a excelência que tal nomenclatura exige algum dia, depois de comer muito “feijão com arroz” cultural e “cozinhar” (produzir) intelectualmente coisas mais consistentes - e não apenas fragmentos subjetivos como faço hoje na internet.


Por que costumam me definir assim? Sinceramente, não sei ao certo. Acho que talvez porque o quadro intelectual hoje em dia anda tão fraco e defasado que uma pessoa que tem uma pequena noção de alguns assuntos, um mínimo de racionalidade e razoabilidade, que sabe ligar “lé com cré”, acaba sendo elevado involuntariamente a essa categoria, o que talvez também ocorra comigo. À bem da verdade eu não escrevo pra ser vangloriado.

Escrevo tão simplesmente para expressar o que penso e o que sinto, é como uma válvula de escape por onde deixo “transbordar” toda gama de informações, conhecimentos, paixões e percepções adquiridas, fazendo-o de modo estilizado textualmente. É uma catarse.

Obvio que gosto quando meu texto apreciado e mais ainda quando alguém se propõe a refuta-lo integral ou parcialmente, pois é nesses embates que consigo extrair síntese subjetiva pra muitos assuntos. Não obrigo ninguém a concordar comigo. Tampouco sou obrigado a assentir uma opinião contrária quando convencido justamente... do contrário!

Alguns já disseram que escrevo “muito difícil” que meus textos são de alta complexidade semântica, mas eu discordo. Discordo porque consigo estabelecer excelentes interlocuções com pessoas no facebook e neste blog e grande parte delas nem é acadêmica ou frequenta os circuitos culturais e intelectuais que frequentei e eventualmente ainda frequento. São pessoas simples que tem uma compreensão e um discernimento muito bons e a quem me lisonjeia a apreciação textual. E hoje em dia tudo está mais fácil de se interpretar. Se não conhece um palavra ou expressão? Simples: joga no Google! São as facilidades inerentes a nossa (pós)modernidade.

Também não gosto de subestimar ninguém. É verdade que muito de vez em quando alguém sem muita base e fundamentação se propõe a objetar o que escrevo e acaba “viajando na maionese” legal. Mas levo na esportiva, acho espirituoso até, me distrai, confesso. O grande barato é que esse se tornou um espaço maravilho de interação, onde pude conhecer pessoas brilhantes, de percepção aguçada e perspectiva de vida maravilhosas. Algumas eu tive o prazer e a honra de conhecer pessoalmente. Outras ainda estou no aguardo. Algumas já conhecia e admirava e pelo que postam aqui passei a admirar ainda mais. Tem também os que não surpreenderam e os que me decepcionaram.


                                  


Tudo faz parte do grande mosaico da cultura e da integração humana. Apesar de tudo, tenho renovada fé no ser humano e na sua ação transformadora. Palavras expostas numa tela virtual podem não parecer muito substanciais, mas seu impacto pra quem lê e a ação de quem as escreve fazem uma diferença monumental em muitos aspectos.


Como dizia Clarice Lispector, escrevo porque se não o fizesse seria como se eu “morresse simbolicamente” todos os dias. Escrevo para me manter vivo e estimulado, pra ajudar a me compreender melhor e também as pessoas de um modo geral. Escrevo, como dizia a poeta, “porque o instante existe” e nele reside toda a beleza e grandiosidade de viver. Tentar traduzi-lo em palavras: eis a minha principal missão. A todos que me leem – esse post ou qualquer outro – obrigado por me ajudarem a ser mais humano e mais feliz.