domingo, 30 de dezembro de 2012

SOBRE O PAPA, JEAN WYILLYS E CASAMENTO GAY


Sei que ao escrever sobre isso adentro num caminho arredio e pedregoso, de posições e oposições inflamadas de todos os lados. Mas, como bom provocador que sou, não irei me furtar em dar minha opinião e suscitar o bom debate.

Para Bento XVI 
Nesses dias foi reascendida a polêmica sobre a posição da Igreja Católica e do Papa Bento XVI sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O papa reafirmou ser essa uma prática a ser combatida argumentando que ela ameaça a humanidade, chegou a propor a união de várias religiões para conter o avanço desse tipo de união no mundo.

A fala do Papa não é exatamente uma novidade. A Igreja Católica bem como a maioria das igrejas cristãs condenam as relações homoafetivas por considera-las “uma perversão a ordem natural dos gêneros”. É, sem dúvida, uma visão conservadora e preceitual, mas nada de inédito em se tratando de congregações religiosas.

Em resposta a fala do Papa, o Deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) postou em sua conta pessoal no Twitter, ofensas contra o pontífice, no calor das emoções, inflamando ainda mais uma questão que é delicada por natureza.

Deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ)


Deputado Jean Wyllys em sessão no Plenário da Câmara
Concordo que ele como parlamentar e militante da causa LGBT tenha o direto de se manifestar sobre o assunto. No entanto, há de se ter respeito e razoabilidade ao expor seu ponto de vista sobre quaisquer assuntos, sob o risco de incorrer no mesmo ato a que se está, aparentemente, querendo combater: pré-conceito e intolerância. Ainda mais se tratando de uma autoridade política, que deveria se pautar pela sensatez e comedimento nos temas que analisa e nas bandeiras que defende.

Sou contra qualquer espécie de vilipendiamento gratuito e desnecessário de símbolos religiosos e/ou líderes de Igrejas, e nesse caso acho que o deputado se excedeu lamentavelmente e prestou um grande desserviço a discussão, desvirtuando seu principal foco: a liberdade.


Vivemos num mundo extremamente diverso e plural onde existem várias identidades, sejam étnicas, socioeconômicas, culturais e sexuais. Há espaço para a convivência respeitosa entre elas. No caso dos homossexuais, deve haver liberdade e pleno gozo (sem trocadilhos, por favor) dos direitos fundamentais da pessoa humana.

Por que essa parcela da população que representa, segundo pesquisas, 10% do total deve ter seus direitos mais essenciais cerceados? Acaso não são cidadãos como nós, não pagam impostos e têm direitos e deveres como nós? Assim sendo, por que não terem a possibilidade de conviver legalmente com a pessoa a qual escolheram?

Como vivemos numa cultura predominantemente cristã, a doutrina religiosa acaba sendo um argumento bastante recorrente para justificar a negação de diretos. Entretanto, a própria ideia da “abominação bíblica” à homossexualidade trata-se de uma interpretação das escrituras, que embora seja majoritária, não é hegemônica sequer no meio cristão. Existem congregações que aceitam relações homoafetivas, algumas delas são bastante longevas e tradicionais, como a Igreja Católica Anglicana, a religião predominante na Inglaterra, que permite, inclusive, o casamento de sacerdotes com pessoas do mesmo sexo.



ente disso, o Estado é Laico, e não deve se pautar por preceitos de nenhuma religião (sobretudo para cercear direitos utilizando-se de justificativas doutrinárias), embora estas possam se manifestar livremente e tenham forte penetração no cotidiano social e identitário. Mesmo que todas as Igrejas condenassem os homossexuais e os considerasse uma perversão da "dinâmica sexual dos gêneros", o que não é o caso, ainda assim eles teriam de ser respeitados enquanto indivíduos e enquanto sujeitos de diretos e deveres, pagam impostos tanto quanto os outros. A liberdade é o bem essencial de todo qualquer cidadão não importa o gênero ou orientação sexual.

As pessoas já nascem com a pré-disposição a orientação sexual, seja hetero ou homossexual. A ciência, através do mapeamento genético comprova. A psicologia moderna bem como seus órgãos colegiados confirmam que a homossexualidade é uma natureza, uma condição inata e não uma doença ou escolha. Se assim fosse, seria simples “cura-la”, afinal, quem em sã consciência iria optar por um modelo de vida tão atacado e marginalizado?

Quanto ao casamento gay ser uma ameaça a humanidade, eu humildemente discordo. Em que constitui grave ameaça aos seres humanos o fato de pessoas do mesmo sexo poderem se casar ou adotar crianças? Aliais, no que isso interfere na chamada “lógica natural” das pessoas héteros? Os héteros não costumam contrair matrimônio com gays (ao menos voluntariamente) e, em contrapartida, os últimos também não. Héteros casam-se e relacionam-se afetivamente com héteros e gays com gays. Isso não interfere um milímetro na dinâmica de gênero na sociedade. A diferença no caso dos homossexuais é que estes nem sempre podem unir-se civilmente as pessoas que amam.


O que ameaça de fato a humanidade é a violência, a intolerância, a falta de amor e respeito pelo próximo. A política belicista de alguns países que vivem a suscitar medo, terror e insegurança. A fome e a falta de acesso à educação e saúde; a especulação financeira que age promiscuamente contra o estado de bem estar social, a violência sexual, os males como depressão e outros transtornos oriundos do clima de desesperança do mundo moderno, a banalização da vida e das relações humanas. ISSO SIM são coisas que ameaçam o futuro da humanidade e não o fato de duas pessoas do mesmo sexo se unirem legalmente.





A visão do Papa é mais uma inferência, uma opinião, que propriamente um dado. Eu respeito a posição dele, apesar de não concordar com esse visão catastrófica de uma ameaça a humanidade oriunda da união legal de pessoas do mesmo sexo. Acredito que ninguém escolhe ser homo assim como ninguém opta por ser hétero. Desejo é instinto, não escolha. Como já colocado, se nasce com determinada pré-disposição sexual. A ciência atesta, inclusive. Se perguntar a qualquer homossexual, homem ou mulher, se o é por opção, a resposta será invariavelmente negativa. Provavelmente também dirão que se pudessem escolher, optariam por ser hétero, já que a homossexualidade ainda é bastante rechaçada no meio social.














Quanto a natalidade, embora haja um número expressivo de homossexuais no mundo, ela não parece ter sido afetada. Estatisticamente há um crescimento populacional, que não é maior devido o planejamento familiar dos casais, que voluntariamente decidem ter menos filhos. Esse ano, por exemplo, o mundo chegou ao incrível número de 7 billhões de habitantes! O fato de duas pessoas do mesmo sexo se unirem legalmente, em minha modesta opinião, não constitui ameaça ao futuro da população, no que se refere a procriação, já que aqueles que são gays, de qualquer forma, já se relacionariam com gays, só não teriam o direito de consumarem a união civil. A mesma lógica se aplica aos héteros, à diferença de que esses têm todos os seus direitos assegurados.

Tenho um amigo que é casado com outro homem e isso não ameaça, nem a rua, o bairro, a cidade, estado, país ou qualquer grupo ou região geográfica, quanto mais a humanidade. Ele trabalha, paga seus impostos, respeita as leis do Estado Democrático de Direito e vive em harmonia com seu parceiro. Eles se amam. Simples assim. Natural assim.

Não é disso, afinal, que todas as religiões falam: amor, fraternidade, humildade, respeito ao próximo e solidariedade?

No vídeo abaixo, a reação de um pequeno garoto ao se deparar, pela primeira vez, com um casal de pessoas do mesmo sexo. A inocência e espontaneidade dele comovem pelo gesto acolhedor, ainda não corrompido pela visão intolerante e preconceituosa que grande parte das pessoas alimentam. Vale para reflexão.

                                     

Nenhum comentário:

Postar um comentário